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Microcontos na era do Twitter

Se hoje em dia fala-se tanto em microcontos, é porque também se fala muito em Twitter.



Uma coisa é fato: se hoje em dia fala-se tanto em microcontos, é porque também se fala muito em Twitter. Criada em 2006, a rede social é um microblog onde cada post – tweet (“pio”, em inglês) – tem o limite de 140 caracteres. A forma reduzida de se dizer algo a cada dia ganha mais adeptos e já tem o Brasil como o segundo país com o maior número de usuários, ficando atrás apenas dos EUA. Entre notícias, links curiosos, piadas, fofocas e diários pessoais, a literatura também encontra um espaço rico no Twitter, com os aforismos, hai-kais e, especialmente, os microcontos.

Mas o que são os microcontos? E quais as diferenças entre minis, micros e nanocontos? Por mais que alguns teóricos tentem defini-los adotando o número de caracteres como parâmetro – nanocontos teriam até 50 letras, sem contar espaços e pontuação; microcontos, até 150 caracteres e, minicontos, até uma página –, ainda não há uma definição exata, tal como acontece com o conto. Este, talvez tenha sido melhor definido por Mario de Andrade: “Conto será sempre aquilo que seu autor batizou de conto”.

Independentemente do número de caracteres e de suas possíveis nomenclaturas, os microcontos são narrativas muito curtas em que a síntese acaba sendo a grande ferramenta de escrita.

O guatemalteco Augusto Monterroso é indicado como autor do primeiro, e talvez o mais famoso, microconto. Publicado em 1959, sua história tem apenas uma frase: “Cuando despertó, el dinosaurio todavía estaba allí” (quando acordou, o dinossauro ainda estava lá). Contudo, há inúmeros textos escritos anteriormente, desde fábulas chinesas até alguns dos textos publicados entre os aforismos de Franz Kafka (por exemplo: “Uma gaiola saiu à procura de um pássaro”), que podemos considerar hoje como microcontos.

Ernest Hemingway é também autor de um famoso microconto: “For sale: baby shoes, never worn” (vende-se: sapatos de bebê, nunca usados). Um texto com apenas seis termos que foi inspiração para o projeto Six-Word Memoirs, da Smith Magazine, e resultou nos livros Not Quite What I Was Planning (Harper Perennial, 2008), Six-Word Memoirs on Love & Heartbreaks (Harper Perennial, 2009), e em que se encontram textos fantásticos como este de Zac Nelson: “I still make coffee for two” (eu ainda faço café para dois). Ou este de Jody Smith: “Found true love nine months later” (encontrou o amor verdadeiro nove meses depois).

Seguidores
 
Partindo desses preceitos, a cada dia novos e já consagrados escritores postam seus microcontos dentro dos 140 caracteres do Twitter, um espaço não só de divulgação, mas também de contato direto com os leitores. Vale então ser um seguidor dos perfis: @marcelinofreire (de Marcelino Freire), @microcontos (de Carlos Seabra), @semruido (do Coletivo Sem Ruído), @tfmoralles (de Tiago Moralles). Bons exemplos de como a literatura breve e a estética da síntese funcionam em conformidade com as novas tecnologias.


Samir Mesquita
Leia mais:
http://www.cartacapital.com.br/tecnologia/microcontos-na-era-do-twitter

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